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devemos mesmo usar remédios pra produzir mais leite?


(Molécula da sulpirida, princípio ativo do remedinho aquele pra esquizofrenia que adoram indiar como galactogogo).

Esses dias, em minha página pessoal no facebook, comentei do tanto de erros de prescrição de medicamentos, em relação à amamentação, que tenho visto. Um médico veio dizer que eu, por não ser médica nem ter estudado farmacologia, não deveria opinar, pois não era capacitada para tal. Novamente, em outra postagem sobre o uso de um medicamento para tratamento de depressão e esquizofrenia que tem, como efeito colateral, estimular e excreção de prolactina, e, consequentemente, aumentar a produção de leite, outra médica veio dizer que o prescrevia, que era um absurdo eu pitacar sobre o assunto porque não sou médica, nem estudei farmacologia e bláblá...

Daí que eu percebi que, para muitos médicos, pensar é ato médico!

Bom, não sou mesmo. Mas sou Doutora, numa área não correlata, mas o que faz de mim uma excelente pesquisadora, então, quando me chamam de burra e querem me colocar no meu cantinho, o que eu faço: vou pesquisar artigos em revistas indexadas, onde saem os trabalhos com metodologia científica descrita, com experimentações e testes que os validam ou não. Isto posto, vamos ao assunto: é preciso mesmo nos entupirmos de remédio pra produzir mais leite só porque o médico prescreveu?

Os medicamentos mais usados pra aumento de produção são Pl***l, Mot***um e Equ***d. Não há estudos a longo prazo sobre o efeito no bebê, mas é sabido que todos são encontrados no leite materno. Zuppa et al (2010) dizem que o uso destes medicamentos deveria ficar restrito às mães que estão amamentado indiretamente, como as mães de prematuros em UTI, que estimulam somente com a bomba (nunca tão eficientes como a mamada) mas que precisam desse suporte pra manter a produção ENQUANTO o bebê não vem ao seio. Outros pesquisadores acrescentam as mães adotivas, que por não terem gestado, não tem o "aparato" bioquímico da ocitocina liberada no parto, que estimularia a prolactina, ou ainda em casos de redução de mama, quando ainda há uma quantidade de glândulas preservada, ou seja, em casos específicos.

A domperidona, usada por muito tempo, aumenta as arritimias cardíacas e ataques cardíacos nas mães (Osborne et al., 1985), enquanto a metoclopramida aumenta a depressão materna e leva a uma discinesia tardia, que são tremores como os de parkinson (Philip, 2013). Zuppa et al (2010) relatam desconfortos gastrintestinais nos bebês cujas mães tomam esses medicamentos e recomendam o uso de domperidona acima da metoclopramida, pois esta última passa a barreira cerebral e não há efeitos a longo prazo descritos. Já para a sulpirida, Zuppa et al. (2010) afirmam que apesar do potencial aumento na produção de leite materno, ela não é recomedável por não haver estudos de médio e longo prazo do seu uso no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, uma vez que a concentração dsd fármaco no LM é elevada e que ele atua, justamente, nos pontos de controle de emoções.


Além disso, o aumento de produção de leite só será eficaz se o bebê conseguir tirar esse leite do seio, e somente com uma boa pega e sucção isso é possível, independentemente do uso de galactogogos. Othman et al (2014) sugerem que chás e ervas funcionam tão bem quanto medicamentos, com menos efeitos colaterais, talvez até por efeito placebo, pois sabe-se que o leite é produzido na cabeça. Os autores recomendam que, se as mães optarem por usar medicamentos, que os médicos as informem bem sobre os riscos de tal ação a longo prazo, mas que antes de tudo observem a mamada.

Zuppa et al (2010) deixam claro que galactogogos só devem ser prescritos em situaçõs atípicas de amamentação indireta, como citado anteriormente (mães de UTI, por ex.) ou quando os planos educacionais para amamentação falharem (orientar pega, observar efetividade de sucção, ensinar técnicas de mamadas, orientar o que realmente é Livre Demanda). Por fim, concluem que os antipsicóticos, onde entra o famoso equ***d jamais deveriam ser prescritos por afetarem o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central do bebê, pois ele passa a barreira cerebral.


Tabares et al. (2014) dizem que os galactogogos mais usados, como a metoclopramida, domperidona e a sulpirida estão relacionados aos seguintes transtornos na mãe: boca seca, desordens gastrintestinais, arritimia cardíaca, letargia, sedação, sintomas extrapiramidais como hipertensão, tiques nervosos, tremores, suores em profusão e até morte súbita. Já nos bebês, eles citam desconfortos intestinais, letargia e sedação.


É interessante que no artigo de Dylon et al. (1997), os autores citam que os médicos devem estar cientes das implicações legais de receitarem medicamentos a gestantes e lactantes e que, cada vez mais, eles tomam posições mais cautelosas no que concerne a estas prescrições. Ainda citam que a decisão de tomar é materna, mas nas drogas que passam pelo leite e possam ter potencial toxigênico (conhecido ou não) o pediatra deve fazer o acompanhamento da presença do medicamento no soro sanguíneo do bebê.


De muitos artigos que vi, a maioria fala dos benefícios de ervas no aumento de leite materno, mas será motivo de outra postagem. De qualquer forma, fica claro que em mulheres saudáveis, com bebês à termo, as medidas de acompanhamento clínico são muito mais eficazes e seguras. Para aumentar leite materno esse bebê precisa fazer uma pega correta e retirar todo o leite da mama, para que o cérebro entenda o recado e produza mais. Uma pega correta está associada ao não uso de chupetas nem mamadeiras, que trazem confusão de bicos, dificultam a pega, retira menos leite e aí temos um efeito em cascata. Prescrever medicamento na sala de parto é antiético. Prescrever, na primeira consulta pediátrica, também o é, afinal o bebê tem até o final do primeiro mês para recuperar o peso e sinais como enurese, e não somente uma média de X gramas por dia, são eficientes para observar se este bebê esta ingerindo leite em quantidade suficiente (mínimo 6 fraldas com xixi por dia).


Nossa, quem sabe uma consultora não fizesse diferença, então? Porque quem vai passar horas com a mãe ordenhando, avaliando e corrigindo pega, observando sinas de recebimento de leite que não somente o peso, tais como enurese? Quais são os médicos que tem tempo de explicar uma relactação, que queiram conversar com a puérpera e família sobre o que aumenta leite, que é se hidratar, comer bem, dormir sempre que der, se desconectar da realidade, voltar-se para si e para o bebê? Não dá, na medicina de convênios atual, em 15 minutos ele decretará que 20g ao dia é muito pouco, que a mãe tem pouco leite (mães sempre levam a culpa), minando a confiança. Tanto stress libera o cortisol, antagonista da ocitocina que ejeta o leite. Já viram no que vai dar, né?

Então, a questão não é sermos inimigos dos médicos, mas pessoas capazes de pensarmos por nós mesmas, questionadoras e que buscam alternativas não medicamentosas ao que concerne o aleitamento. Entendemos que o mercado fez com que caísse a qualidade do atendimento, então entendam que surgiram profissionais capazes de manejar clinicamente uma amamentação sem o uso de drogas, cujos efeitos a longo prazo são desconhecidos. Mas, em caso de evidente baixa produção, o medicamento que aparenta ter mais eficácia e segurança, com menores efeitos colaterais é a DOMPERIDONA, que pode ser tomada de 30 mg a um máximo de 90 mg por dia (divididos em doses que irão de 10 a 30 mg a cada 8h).


Quem ganha com isso? Os bebês que se mantém em aleitamento exclusivo e cujo pequenos corpos ainda não serão bombardeados com medicamentos, as mães que tem a autoestima elevada e que reduzem as chances de desenvolverem câncer de mama, útero e ovários.

Sabemos quem perde: a indústria farmacêutica e as empresas de leite artificial, que financiam a Sociedade Brasileira de Pediatria, mas quero crer, do fundo do coração, que não influencie a classe médica com seus produtos e slogans de impacto.


Mães e bebês agradecem.

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Referências:

1) Dylon et al. 1997. Drug Therapy in Nursing Mother. Obstetrics and Gynecology Clinics of North America, 24(3): 675–696

2) Osborne et al. 1985. Cardiotoxicity of Intravenous Domperidone. Lancet, 2: 385.

3) Othman et al. 2014. Exploring Behaviour on the Herbal Galatogogue Usage among Malay Lactation Mothers in Malasia. Procedia -Social and Behavioral Sciences, 153:199 - 208

4) Philip, O.A. 2013. The Galactogogues Bandwagon. Journal of Human Lactation, 29(1): 7 - 10.

5) Tabares et al. (2014). Pharmacological Overview of Galactogogues.Veterinary Medicine International,. http://dx.doi.org/10.1155/2014/602894.

6) Zuppa et al (2010). Safety and Efficacy of Galactogogues: Substances that Induce, Maintain and Increase Breast Milk Production. J Pharm Pharmaceut Sci, 13(2):162 - 174

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