A falta de apoio e o desmame precoce do alemão
Hoje acordei cheia de mensagens no whats do grupo de clientes que dei consultoria, agradecendo a ajuda. Eu respondi que são elas que merecem o mérito, que se empoderaram e foram atrás de auxílio, não se deixaram levar por pitacos, por pediatras em desacordo com as boas práticas de amamentação, que não se dobraram frente seus medos.
E vim compartilhar a "amamentação" do Henrique, pra vocês entenderam como cheguei até aqui (todo mundo sabe que amamento a Júlia há quase 26 meses).
Alemão nasceu de 38 semanas e 4 dias, parto normal, pesando 3,1 kg e medindo 51,5 cm. Era uma salsicha, comprido e fino. No hospital, quando fiz o curso pré-natal, disseram que teríamos todo o apoio pra amamentar. Aham.
Henrique nasceu e foi levado pra todos aqueles procedimentos desnecessários que relatei antes. Voltou pros meus braços quase 2h depois, cansado e ficou assim, só cheirando a teta. Eu queria muito que mamasse e cada enfermeira que entrava eu perguntava quando mamaria e a resposta era unânime: quando tiver fome ele mama. Deu algumas bicadinhas ao longo do dia, mas foi ammar mesmo mais de 14h após o nascimento.
Passei dois dias enchendo o saco lá, em mim algo dizia que aquilo não tava bacana, mas sempre diziam que ele tinha reservas e quando a fome batesse, ele mamaria. Levei pra casa um rato branco de 2,8 kg
Eu tinha (tenho) um seio fácil, bico protruso, mama não é grande. Na teoria, tudo ótimo. No 5o. dia, seios enormes de cheios, pega horrorosa que me rebentou e cada vez que ele chorava eu chorava junto. Era horrível amamentar e só me diziam que era assim mesmo. Usei pomada de lanolina e cicatrizou, mas não corrigi a pega. Eu tinha bastante leite, pingava, era lindo. Consegui consultar apenas quando ele tinha 21 dias e o peso foi 3,1kg, ou seja , o peso do nascimento. A pediatra disse então que precisava complementar, que ele estava ganhando muito pouco peso, todo aquele terror. No mesmo dia fui ao gineco e questionei porque meu leite "não sustentava" e ouvi que eu tinha seios pequenos, e seios pequenos as vezes não dão leite. Oi? Já comentei que pingava? que no banho eu tirava 50 ml na mão facilmente?
Contei também que dei chupeta? Uma que eu comprei ainda grávida, numa viagem à Noruega? Naquela época, 2008, a maledeta custou 100 reais. Que idiota, hahaha.
(Henrique e sua pega horrorosa, com os lábios inferiores voltados pra dentro).
Eu dava no copinho, ele chorava e minha família dizia que era fome, que eu tava maltratando o bebê (eles não tem culpa disso, é tão imbuído na sociedade que todo choro de RN é fome) deixando ele passar fome que, com 1 mês, entrei com complemento na mamadeira.
Não vi nenhuma vantagem na mamadeira: ele tinha muita cólica, não dormia bem, como diziam que ia dormir, acordava de 2h em 2h (ah, também não "me deixavam" fazer cama compartilhada), eu tava destruída. Eu chorei muito de exaustão. Todo dia as 17h, quando faltava 1h pro pai dele chegar, eu tinha certeza de que morreria de esgotamento.
Quanto mais cólicas ele tinha, mais na teta ele ficava e mais vomitava. Foram 3 meses muito tensos. E eu odiando dar cada uma das mamadeiras. Aquilo me destruía por dentro. Ninguém me disse pra ir num banco de leite, ninguém me disse que existiam consultores de amamentação, ninguém me disse que eu podia trocar de pediatra. Mas muita gente me disse que é assim mesmo, que tem que doer, que eu não tinha leite, que ele passava muito no meu seio e tinha fome. O pai dele me deixava bilhetes amorosos e de força escondidos pela casa, mas ele era um frente uma multidão de pitacos.
(Henrique com 5 meses e meio)
É óbvio que, com tudo isso, eu fizesse a introdução precoce de alimentos, iniciando com sucos (OMG!!! como eu era desinformada), frutas e papas salgadas. Ok, nunca dei mucilagens e afins, mas ele comeu papinha nestlè.
Por fim, uns dias antes de fazer 8 meses, ele parou de mamar. Não buscava mais o seio, e eu parei de oferecer. Tentei me enganar achando que era um desmame natural, mas não foi. Foi confusão de bicos. Eu fiquei tão mal resolvida nessa amamentação que produzi leite (claro que nem enchia) até ele quase ter 2 anos. Ninguém soube acolher minha dor.
(uma das últimas mamadas do alemão. eu sabia que estavam terminando e pensei em fotografar).
Passei anos pensando no que aconteceu, mas como o ai dele não queria mais filhos, engavetei os sentimentos. A vida me agraciou com a bebeia, e com ela a possibilidade de fazer diferente. Li, estudei e me preparei pra amamentar. Escolhi uma pediatra pró-aleitamento antes dela nascer (e vai ter post sobre isso logo logo), deixei telefone de uma consultora em amamentação salvo no celular e pedi que se fraquejasse, o pai dela me levasse (e elevou mesmo, tive uma crise com 20 dias dela). Pedi que a sogra viesse, pra ela cuidar de mim e da casa e eu focar na amamentação. Deixei claro que era importante demais e não aceitaria pitacos. E do "fracasso" do aleitamento do alemão, veio o sucesso pra alemoa, e a nova profissão.
Quantas de vocês tem histórias parecidas? Fica meu abraço, a culpa não é de vocês, e sim dessa sociedade que não sabe lidar com peitos amamentantes, com pediatras desatualizados, com mães e sogras dos anos 70 que não amamentaram e colocam, ainda que inconscientemente, minhocas na nossa cabeça dizendo que isso não é importante. Mas é importante sim que não propaguemos mitos, que aprendamos com nossos erros e que desmistifiquemos a amamentação.
Beijos <3
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Minha avaliação hoje seria problemas na pega e introdução da chupeta, que piorou a pega ruim. Também aceitaria o biotipo dele, mais comprido e magro, como ainda é até hoje (abaixo da linha verde de peso e muuuito acima da linha mais alta na altura).
A pega ruim começou na apojadura, então eu deveria ter ordenhado o seio para não ficar tão cheio e amolecer o mamilo, organizando a pega. Pega ruim, bebê cansa de mamar e não chega no leite mais gordo. Se precisasse de "dieta de engorde", eu sugeriria pra mim mesma ordenhar um pouco o seio e oferecer aquela mama mais o leite posterior, terminando a mamada no outro seio e oferecendo o leite ordenhado no copo após os dois seios.
Cris